30 de dezembro de 2010

Eu que Amo Tanto II

Deus - "Tenho dois medos na vida: de ficar doente, muito doente e não me poder mover, e de me sentir sozinha. São estes os meus medos. (...) O que me deixa indignada...há coisas, assim, que me deixam indignada, o ser humano havia de se ver ao espelho e perceber a beleza que pode fazer, e, num momento de crise, aparece esta gente que atira o próprio filho pela janela como vi na televisão e, assim, eu fico catatónica, indignada. De bom, eu acho que há o amor, fazer as coisas bem fazendo o bem, encontrar pessoas, e as melhores coisas da vida são de graça, né? (...) Nascer perfeito não existe, né? Mas ele é realista, sonhador, eu diria que ele é assim...uma agulha num palheiro. E eu também, né? E, geralmente, as agulhas no palheiro encontram-se. (...) Única não, mas acho que sou diferente. (...) Tenho esta tendência para me apegar e não posso, tenho de ter concentração na vida, meu deus, mas depois eu olho-o e penso que ele é muito jeitoso, meu deus, é bonito e maravilhoso e depois olho para outros casais e digo: é parecido, mas o meu ainda é melhor e depois vou-me encontrar com ele e fico toda preocupada, assim, né, tenho medo dos homens. Tenho, tenho medo dos homens porque eu não me domino às vezes, né? (...) Viver é difícil, acho que para toda a gente. Não é fácil. É bom termos um mote, haver alguma coisa em que se possa confiar. Quem não dá valor a nada não ama nada, né? (...) Já estou a proibir-me de ver porque o orkut é uma coisa muito séria. Ali fica-se a saber quem entrou, quem saiu, entramos no orkut dos outros, sabemos se alguém nos dá bola, e depois eu vou lá e descubro um monte de coisas da pessoa e vou saber quem está a publicar recadinhos para a outra pessoa e faz-me ciúmes porque quando eu namorava eu ficava a ver o orkut dele. (...) Agora parei com isso. Eu sei que o outro é o outro e que eu não o consigo controlar. Só se engana quem quer. Eu tenho domínio sobre mim própria. O outro tem a sua liberdade, o direito de ir e vir. Eu tenho de ter um pé na realidade. Há um ataque de nervos, ansiedade, nenhuma roupa que se põe fica bem, de que cor, que sapatos, põe a irmã no meio, e já me liga, namorar um tipo que fica o dia inteiro connosco é de descontrolar, meu, vamo-nos pegar, vamo-nos apegar, vou ficar a ver se ele olha para o lado, para a minha amiga, ele é um homem, percebe?! (...) Os homens, porque um homem é uma coisa boa demais. Eu perco a calma, eu amuo, fico a pensar, a pensar, e depois digo alguma coisa. Eles gostam porque adoram ver uma mulher ficar transtornada. Se ficares calminha eles não percebem. Eu consigo ser má. Há uns tipos que só funcionam no chicote, só ouvem quando os atiramos pela escada abaixo. Eu dou-lhes uns estalos senão eles começam a achar que são o máximo, com o ego super lá em cima, pensando que podem fazer tudo, parecem uns pombos a andar, tipo aquele peito rufado de penas, achando-se o máximo, sem limites, uns tontos. O meu maior defeito é esta carência que me move e me faz apegar a eles. E eu fico a desmoronar-me assim, pelos lados, deixo as coisas irem acontecendo e depois é que encaro o caos, fico confusa e, quando me dá esta confusão eu penso assim, puxa, como é que tudo chegou a isto, como é que eu consegui deixar isto chegar a este ponto, assim, as coisas, a situação, nós, sabe ??!! Meu deus, mas que absurdo!"

Imaturidade - "Eu queria muito pouco, esperava muito pouco, era demasiado emotiva, e foi neste contentamento com o que sobrava que me instituí como auxiliar afectiva, auxiliar até da minha maior e mais bela história de amor, como ousei qualificá-la. Não agora, agora já não, desde que estou no grupo do eu sozinha, e inicio uma delicada relação de descobertas e apreço pela minha pessoa. (...) A relativização é uma boa forma de aceitação e manutenção. E o que é um casamento senão o exercício diário da aceitação, para além de um esforço conjunto de manutenção? (...) Não houve outra solução, não conseguia relacionar-me com ninguém, já nem sabia se aquilo era amor ou só uma vontade irreprimível de ganhar a batalha. O facto é que submeti a um triângulo amoroso. Submissão, vírgula. Completamente descontrolada, ora seduzia, ora controlava, ora perseguia. Quando me transformei numa obssessiva insuportável, desapareceram os amigos que ainda se importavam. Então, escondi-me, coberta de vergonha pela situação que permiti e ajudei a sustentar. Às vezes pergunto-me se não fui eu a engenhosa e solitária arquitecta de tudo. (...) Cinzenta, chata, eu gritava para que me conseguissem ouvir. Entrei num grupo, baixei a voz, ouvi outras mulheres, até ao dia em que estas mulheres me ouviram a mim. Só então passou. Conheci a serenidade. (...) Como amigo revelou-se muito melhor do que como marido. Deve pensar o mesmo de mim. (...) Tenho o tempo todo do mundo para me reinventar. No amor, pretendo arrumar o pires. Mendigar nunca mais. Eu mereço um prato grande e cheio. Procuro alguém que me faça feliz fora da cama. Ah...se eu soubesse aos dezasseis como tudo seria hoje, tinha jogado melhor o jogo!"

Inquietação - "Deu-me para estudar os triângulos. Interessam-me, de um modo especial. O triângulo é um polígono com três lados. As minhas histórias, desde a mais remota lembrança, sempre tiveram três versões. Todas razoáveis. Fascinante. Não é uma circunferência, não é um quadrado. É um triângulo, uma tríade, para ser mais exacta, a representação desta vida que eu tenho vivido como se fosse a última. Ou a primeira. Triângulo escaleno, de lados desiguais. Se bem que nalguns períodos de maior equilíbrio, configura-se como isósceles. Paz. Dois dos lados estão iguais. O equilátero nem cheguei a conhecer. Não me esforcei. Prestidigitadora de emoções, consigo, sozinha, fazer da minha cabeça um triângulo agudo, e por vezes, obtuso. Um cansaço. Gosto bastante do modelo semiótico, uma relação em que o primeiro se liga directamente aos dois últimos, que, por sua vez, só se relacionam entre si através do primeiro. Vários ângulos da mesma questão, dando a alguém uma posição de vantagem. Gosto. Quero. Eu primeiro! Jogo inquieto e nervoso. Uma triangulação danada! (...) Ainda que eu não me considere uma mulher que ama demais padrões. Não! Não sou de ficar ao telefone a ligar compulsivamente, está, és o homem da minha vida. A minha condição é outra: sou obssessiva em pensamento. Este é o meu triângulo privado. (...) Quando conheço um tipo, pode apostar que ele está na merda. Eu entro armada em salvadora. Sou quem dá mais, regenero, vou tirar este gajo desta tripe, vou ser a mulher da vida dele! É desta forma que eu caço o amor! (...) Gosto desta condição de ter um relacionamento destrutivo, cheio de adrenalina. Alguém vai desaparecer e, o mais importante, não serei amada porque, se for, não vou aguentar. Se gostarem de mim, se forem bons e tiverem uma vida simpática, não vai haver faísca. Eu não curto uma cena normal. Na verdade, vivo na ilusão, eterna adolescente a sonhar grandes amores. Romeu e Julieta na cabeça, e não é nada disso. Por favor!! Já não tenho treze anos e estamos no século XXI. (...) É uma história nova, que me instiga, que me tira a tranquilidade. Adoro pessoas que me tiram o tapete de debaixo dos pés por três segundos. Amo a adrenalina a entrar nas veias, e faço tudo para não pensar na puta da ressaca emocional que vem depois. Que vício mais doido. Amo-o e odeio-o. (...) Ando a chorar muito. Não me estou a aguentar. Tento concentrar-me, mas a pressão é muita. Com a auto-estima no fundo do mar, presumo que qualquer mulher é melhor que eu. Antes não o fazia. Anda tudo muito trágico, em mim, ultimamente. O fundo do poço está bem pertinho. E eu não estou a ser honesta, é isso! Há uma honestidade implícita na salvadora, na que entra num triângulo para socorrer. Como defender quem constrói, deliberadamente, o seu jogo triangulado?! Infelizmente, tenho de ser sincera: há horas em que eu acho isto, esta compulsão, esta intensidade toda muito agradável. Podia era não ser 24 horas por dia, é verdade. Mas isso não invalida a questão, não deixa de ser agradável. Jesus do céu, como ser feliz se, neste momento, eu sinto que não presto?!"

Busca - "Apaixonada, eu chorei tanto que fazia dó. Apaixonada? Doente, é o que é! Seguindo o conselho da sogra "vai morar sozinha na tal casinha e tenta realizar os teu sonhos querida", eu fui. Passados três meses, o cobarde voltou, arrependido, propondo-me coabitação sem casamento. Eu, que era capaz de me deitar no chão para ele me passar por cima, aceitei. Tudo em nome do amor. Já usei esta expressão antes, não usei? Besta, idiota, passei a brincar às casinhas, às esposas perfeitas. Lavava, passava e cozinhava enquanto ele fazia os seus compromissos ou o interminável futebol com os amigos. Quando eu reclamava, ele dizia-me: fazes isso porque queres. E eu pensava: é verdade, e o meu mundo virava-se ao contrário. (...) Neste período, tentei filosofias orientais para aprender a perdoar, zanguei-me com a minha sogra, preenchi a vida com orações e com ódios. Não é pouco. Traí-me a mim mesma durante mais uns dois anos. Marcava a quilometragem do carro do cretino, acordava cedo para conferir na garagem da casa da avó e continuava a achar que o mundo só valia a pena se fosse vivido em tão nobre companhia. Desculpe a minha existência, mea culpa, mea culpa, com licença, perdão. (...) Eu aprendi. A duras penas. A vida é boa! É uma desgraçeira, mas é boa! Bebe mais um copo? Saúde!" :)
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