26 de maio de 2012



Ele nem sabe...
Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele ...não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura. Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.

Marla de Queiroz
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23 de maio de 2012

As pessoas bem resolvidas!


Acho que só por contágio e influência dos nossos amigos brasileiros trouxemos, há poucos anos, para o vocabulário nacional a expressão do "ser uma pessoa bem resolvida". Não quer isso dizer que não houvesse entre nós a perceção de que algumas pessoas estão melhor consigo mesmas do que outras, independentemente das circunstâncias dos acontecimentos e das vicissitudes da vida. Mas a tendência sempre foi a de considerar que essas pessoas eram mais felizes ou mais bem dispostas naturalmente, como se se tratasse de uma questão de temperamento e, portanto, a atitude, o estado de espírito, a forma de reagir e agir fossem uma espécie de destino que calha em rifa em vez de uma construção própria e activa.
Ora se existe alguma característica distintiva nas pessoas bem resolvidas é a de saberem que são elas as protagonistas da sua própria história e que, aconteça o que aconteça, é a elas que cabe todas as decisões e resoluções. É a elas que cabe mudar a sorte, é a elas que compete tomar conta de si.
As pessoas bem resolvidas não são, necessariamente, as mais inteligentes, as mais bonitas, as mais temerárias ou as que têm mais sucesso profissional ou emocional. Também não têm de ser aquelas a quem a vida corre melhor. Frequentemente pelo contrário, até são as que tiveram perdas significativas mais precoces ou experiências dolorosas continuadas. A diferença em relação a outros  é que aprenderam com isso e que usaram os acidentes de percurso, não para se instalarem numa frustração azeda nem uma desculpa crónica para todas as coisas que correm mal, mas antes tentaram dar a volta por cima e conseguiram. Foram conseguindo uma e outra vez e deram-se conta de que isso era um trabalho perpétuo e quotidiano. Neste processo de construção própria tem de haver uma crença arreigada na possibilidade de transformação. Tem de se acreditar que vale a pena tentar o que parece difícil e de se conseguir tirar gratificação do próprio caminho que se faz para lá chegar.
Ser bem resolvido quer apenas dizer estar bem com a vida. Para estar bem com a vida tem de se estar bem consigo mesmo, e possuir uma atitude aberta e honesta ao que há e ao que há para vir.
Não é fácil, mas é bom.
Muito bom.

Isabel Leal
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21 de maio de 2012


Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva para que possamos
Compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos
Compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer
Nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos
Compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer
Nos mostrar a importância da vida.


Paulo Coelho

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Por medo, você corre o risco em deixar de viver o melhor da história.
Da sua.
Especialmente.

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O resto É resto


Resolvi que não tenho mais problemas.
Eu os invento.
Portanto, nesse momento, está desinventado.
Todo e qualquer constrangimento.
Anulada qualquer culpa.
Quebrado qualquer quebranto.
Nenhuma dúvida restará.
Inválida será qualquer dor.
De agora em diante, simplesmente não entendo o que não se explica.
Não me confundem mais as palavras.
Volto a ser gente que só sente, sinceramente.

Cris Giffone
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19 de maio de 2012

9 de maio de 2012

Desvenda-me!


Desvenda-me.
Cor a cor.
Peça a peça.
Palavra a palavra.
Gesto a gesto.
Aprenderás com o tempo que sou a incógnita mais simples de todas as equações. Mas não posso mostrar-to. É algo que tens de descobrir sozinho... Às vezes é só olhar melhor, ainda que para as mesmas coisas. Trago a transparência nos olhos e tenho a alma aberta, ainda que quebrada. Por isso olha para mim. Vê-me. Descobre os meus segredos com a suavidade de um toque ou de um suspiro. Sou um enigma que só tu podes desvendar. Por isso decifra-me.
Medo a medo.
Ilusão a ilusão.
É assim que poderás chegar ao fundo da minha alma.
Passo a passo.
Sem desistires de mim, sem desistires do que pode haver nos confins do que o mundo não vê em mim. Não esperes que seja um livro aberto. Há muito nas entrelinhas do conto mal fadado com que pintei a história da minha vida. Mas podes interpretar-me. Mover-te qual personagem da história, conhecer o que ficou além do que eu própria sei. Hei-de te deixar chegar lá: ao lugar inóspito do meu coração onde nunca ninguém chegou. Hei-de te mostrar a incerteza e a dor.
Carinho a carinho.
É assim que vais derrotar a minha insegurança. Matando os silêncios, trucidando as distâncias e abraçando o meu corpo de mulher perdida.
Toque a toque.
Beijo a beijo.
O sentir insensato dos teus lábios nos meus. É assim que vais quebrar a minha muralha. É assim que vais roubar a máscara de mulher forte e conhecer a menina carente. E talvez seja aí que, incerteza a incerteza, vais criar o adeus.
Mas entende: é peça a peça, cor a cor, palavra a palavra que terás acesso ao melhor e ao pior de mim. E eu sou o que fica nessa realidade crua: o melhor e o pior. Não julgues tão facilmente! Desvenda-me. Tenho a certeza de que consegues entrar no meu mundo de sonhos, onde geralmente só eu posso vaguear. Nesse mundo vais conhecer personagens e desejos. Personagens com vida própria e desejos que guardei pela certeza inabalável de que é impossível viver de sonhos. Vais conhecer nele a fada, a bailarina, a criança. Vais conhecer nele os rios de possibilidade e o horizonte que fica ao alcance de um toque. E, nesse mundo maravilhoso, também vais palmilhar os vales da minha loucura. Porque me perdi loucamente no desejo de viver na ilusão de uma vida melhor. Podes decifrar-me.
Sentido a sentido.
Respiração a respiração.
Sopro a sopro.
Podes decifrar esse enigma que espantou universos e surpreendeu átomos. Esse ser que fez apaixonar umas pessoas e afastou outras. Seja qual for o desfecho: desvenda-me.
Cor a cor.
Peça a peça.
Palavra a palavra.
Gesto a gesto.
Decifra o que há de mais complexo em mim por entre a minha própria simplicidade. Não importa se depois fores embora, passo a passo. Só não quero que vás sem saberes quem eu sou.

Marina Ferraz
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7 de maio de 2012

For Good * Wicked


I've heard it said
That people come into our lives for a reason
Bringing something we must learn
And we are led
To those who help us most to grow
If we let them
And we help them in return
Well, I don't know if I believe that's true
But I know I'm who I am today
Because I knew you...

Who can say if I've been changed for the better?
But because I knew you
I have been changed for good

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4 de maio de 2012

Abraço, amor e carinho


Quando era criança não precisava de acreditar em algo superior para ficar feliz, mas tinha uma curiosidade imensa e uma necessidade quase física de questionar tudo e de reflectir sobre a vida, a morte, os acontecimentos, o sofrimento, as doenças, o amor, a violência. Fruto da minha rebeldia contra tudo o que era imposto ou dado por certo, interrogava-me sobre a causa da existência do bem e do mal no mundo, uma vez que Deus criou o universo à sua imagem e semelhança e nos indicou o caminho do bem. Para mim, era muito duro admitir que um ser humano era capaz de violentar, infligir dores a outro ser humano e, ainda, matá-lo, se quisesse. Até compreendia os animais por terem o instinto de sobrevivência, mas nunca consegui perceber, enquanto criança, o porquê do comportamento violento do ser humano, que, ao contrário dos animais, tem raciocínio. Mais tarde, percebi que o ser humano pode agir por conta própria e que tem a opção de fazer o bem ou o mal, investido pelo seu poder supremo - o livre arbítrio. Assim, ele pode ser tão bom quanto mau, tão elevado quanto baixo, tão generoso quanto cruel, porque a natureza: nem bom, nem mau, apenas humano.
Diz-se que o mal é a ausência do bem, assim como o frio é a ausência do calor, o escuro a ausência da luz, o ódio a ausência do amor, então, a violência seria a ausência de carinho? Acho que nunca deixarei de fazer perguntas. Apenas damos respostas a algumas que, mais tarde, acabam por originar outras, é um processo sem fim, uma busca incessante e constante. No entanto, o que importa não é necessariamente a resposta, mas a pergunta em si, a procura, os momentos, o próprio caminho. Ninguém quer chegar ao fim do caminho, nem responder a todas as perguntas, porque chegar ao fim é ficar sem propósito, sem sentido.
No outro dia imaginei como seria o nosso dia-a-dia se não existissem árvores e flores, o mar e as montanhas, o azul do céu e o pôr-do-sol. Mesmo se ainda assim a vida fosse possível, o que não se podia garantir nestas circunstâncias, ela seria desprovida de toda a harmonia que a Natureza nos possa facultar, o que é fundamental para captar as vibrações de paz e serenidade que ela nos transmite e que nos dá forças para continuar, até nos momentos mais difíceis. Quando saio do meu escritório, passo ao lado do parque Eduardo VII, em Lisboa, e aproveito para encher-me de energia, sentindo o perfume suave das flores e da relva recentemente cortada. Acredite, é uma terapia garantida para encontrar num ápice a paz, a serenidade, a quietude. Tudo está aí para a nossa harmonia e troca de energia. Reflectindo correctamente, esta seria a melhor maneira para evitar ficarmos violentos, amargos, tristes ou desiludidos. Nos momentos mais tensos, vou procurar um lugar calmo na Natureza para respirar fundo e concentrar-me em tudo aquilo que faz parte da minha vida. Já teve oportunidade de abraçar uma grande árvore com todo o carinho, como se fosse um ente querido? Se ainda não o fez, tente esta experiência única, descarregando as suas preocupações na crosta áspera da árvore e lançando, ao mesmo tempo, pensamentos positivos, cheios de amor, de gratidão e de adoração para consigo, para com a Mãe Natureza, o Universo, o mundo inteiro. Este abraço especial vai proporcionar-lhe equilíbrio no seu corpo e na sua vida, como se bebesse na fonte da Energia Universal.

Elisabeth Barnard

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