" Quando queremos alguém - quando queremos mesmo -, é como se tivéssemos pegado numa agulha cirúrgica e suturado a nossa felicidade à pele dessa pessoa, de forma que qualquer separação provocará agora uma laceração. Tudo o que sabemos é que temos de obter o objecto do nosso desejo por qualquer meio necessário e, depois, nunca nos separarmos dele. Só conseguimos pensar na pessoa amada. Tornamo-nos escravos dos nossos próprios desejos.
Esta é a singular fantasia da intimidade humana: que um dia, um mais um será, de alguma forma, igual a um.
É assim que começa a paixão. E a paixão é o aspecto mais perigoso do desejo humano. A paixão leva àquilo que os psicólogos chamam "pensamento intrusivo" - aquele famoso estado de distracção, em que não nos conseguimos concentrar em mais nada, a não ser no objecto da nossa obsessão. Assim que a paixão ataca, tudo o resto - empregos, relações, responsabilidades, comida, sono, trabalho - fica pelo caminho, enquanto alimentamos fantasias sobre o ser amado, que rapidamente se tornam repetitivas, invasivas e absorventes.
A paixão altera a química do nosso cérebro, como se nos tivéssemos a encharcar em opiáceos e estimulantes. Os cientistas descobriram recentemente que os exames de imagiologia cerebral e alterações de humor de uma pessoa apaixonada são extraordinariamente semelhantes aos de uma pessoa viciada em cocaína - e não é de estranhar, pois a paixão é uma adição, com efeitos químicos mensuráveis no cérebro.
Tal como a antropóloga e especialista em paixão, a doutora Helen Fisher, explicou, as pessoas apaixonadas, tal como qualquer drogado, "sujeitam-se a coisas pouco saudáveis, humilhantes e até fisicamente perigosas para conseguir o seu narcótico".
É impossível qualquer lógica durante um estado febril como esse. O amor verdadeiro, saudável e maduro, não se baseia na paixão, mas no afecto e no respeito. A realidade sai de cena no momento em que a paixão entra, e somos capazes de dar connosco, em breve, a fazer todo o tipo de coisas disparatadas que nunca teríamos pensado em fazer se tivéssemos conservado a sanidade mental.
Pedir a uma rapariga de vinte anos que saiba automaticamente, de alguma forma, coisas sobre a vida que a maioria das mulheres de quarenta anos precisou de décadas para compreender é esperar demasiada sabedoria de uma pessoa tão jovem. Por outras palavras, talvez tenhamos todos de passar pela angústia e erros de uma primeira puberdade, antes de podermos ascender à segunda...
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